Em um mundo cada vez mais exigente, a saúde mental se tornou um tema central nas nossas vidas. O Janeiro Branco, campanha que busca desmistificar o cuidado com a mente, nos convida a refletir sobre o nosso bem-estar emocional. No entanto, a saúde mental no ambiente de trabalho enfrenta um desafio significativo: o assédio moral.
Essa prática nociva, presente em diversas organizações, afeta milhões de trabalhadores em todo o mundo, minando sua autoestima e comprometendo sua saúde mental. Diante desse cenário, torna-se evidente a necessidade de criar ambientes de trabalho mais seguros e saudáveis, onde as pessoas possam desenvolver suas atividades de forma plena e sem o medo de serem vítimas de abusos psicológicos.
O que é assédio moral?
Assédio moral é um conjunto de comportamentos abusivos e repetitivos, exercidos de forma intencional, que visam humilhar, intimidar ou insultar uma pessoa no ambiente de trabalho. Essa prática pode se manifestar de diversas formas, como:
- Críticas constantes e humilhantes: Desvalorização do trabalho e da pessoa, com o objetivo de minar sua autoestima.
- Isolamento: Exclusão da pessoa de atividades e conversas, gerando um sentimento de solidão e rejeição.
- Sobrecarga de trabalho: Atribuição de tarefas excessivas e impossíveis de serem cumpridas, visando sobrecarregar a vítima.
- Propagação de rumores: Disseminação de informações falsas e maldosas sobre a pessoa, com o objetivo de prejudicar sua reputação.
- Agressões verbais: Uso de palavras ofensivas, xingamentos e ameaças.
É importante destacar que o assédio moral não se limita a comportamentos explícitos, mas pode se manifestar de forma mais sutil, através de gestos, olhares e ironias.
Impactos na saúde mental
O assédio moral causa danos profundos à saúde mental da vítima, podendo desencadear uma série de transtornos psicológicos, como:
- Ansiedade: A incerteza e o medo gerados pelo assédio podem levar a um estado de alerta constante, caracterizado por preocupação excessiva e dificuldade de concentração.
- Depressão: A sensação de inferioridade, a perda de autoestima e o isolamento social podem levar à depressão, com sintomas como tristeza profunda, perda de interesse pelas atividades, alterações no sono e no apetite.
- Burnout: A exposição prolongada ao assédio pode levar ao esgotamento físico, emocional e mental, caracterizado por exaustão, cinismo e redução da eficácia profissional.
Impacto na vida pessoal
Além dos impactos na saúde mental, o assédio moral também pode afetar significativamente a vida pessoal da vítima, causando:
- Dificuldade em manter relacionamentos: A pessoa pode se tornar mais retraída e isolada, tendo dificuldades em se relacionar com outras pessoas.
- Alterações no comportamento: A vítima pode apresentar mudanças comportamentais como irritabilidade, agressividade ou apatia.
- Problemas de saúde física: O estresse crônico causado pelo assédio pode levar ao desenvolvimento de doenças físicas, como dores de cabeça, problemas gastrointestinais e distúrbios do sono.
- Dificuldade em encontrar um novo emprego: A experiência do assédio moral pode gerar traumas que dificultam a busca por um novo emprego e a reinserção no mercado de trabalho.
A cultura organizacional como fator determinante:
A cultura organizacional é o conjunto de valores, crenças, normas e comportamentos compartilhados pelos membros de uma empresa. Ela molda o ambiente de trabalho e influencia diretamente a forma como as pessoas se relacionam.
- Importância de uma cultura de respeito e valorização: Uma cultura que valoriza a diversidade, a inclusão e o respeito mútuo cria um ambiente mais saudável e seguro, dificultando a ocorrência de assédio moral.
- Cultura tóxica e assédio moral: Uma cultura tóxica, caracterizada por competitividade excessiva, hostilidade e falta de ética, pode facilitar a ocorrência de assédio moral, pois normaliza comportamentos abusivos e cria um ambiente de medo e insegurança.
- O papel da liderança: Líderes têm um papel fundamental na construção de uma cultura organizacional positiva. Ao dar o exemplo, promovendo a comunicação aberta e incentivando comportamentos éticos, eles podem prevenir o assédio moral e criar um ambiente de trabalho mais saudável.
Legislação brasileira sobre o assédio moral:
No Brasil, o assédio moral é considerado uma forma de dano moral e pode gerar diversos tipos de responsabilização, tanto para o agressor quanto para a empresa. Algumas das principais leis que protegem os trabalhadores contra o assédio moral são:
- Constituição Federal: Garante o direito à dignidade da pessoa humana e proíbe qualquer tipo de discriminação.
- CLT (Consolidação das Leis do Trabalho): , A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) sofreu importantes alterações com a Reforma Trabalhista de 2017 (Lei nº 13.467/2017), que incluiu o assédio moral e sexual como justa causa para rescisão indireta do contrato de trabalho, permitindo que o empregado encerre o vínculo empregatício sem justa causa em caso de sofrer esse tipo de violência. Em um avanço ainda maior para a proteção das mulheres no mercado de trabalho, a Lei 14.457/2022 tornou obrigatória a implementação de canais de denúncia em empresas com Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), facilitando a denúncia de casos de assédio e garantindo medidas mais eficazes de combate a essa prática.
- Código Civil: Permite que a vítima de assédio moral busque indenização por danos morais e materiais.
O papel do compliance:
Compliance é o conjunto de normas e procedimentos que uma empresa adota para garantir que suas atividades estejam em conformidade com as leis, regulamentos e códigos de conduta. Um programa de compliance eficaz é fundamental para prevenir o assédio moral, pois:
- Cria uma cultura de integridade: Ao estabelecer um conjunto claro de valores e expectativas, o compliance incentiva comportamentos éticos e justos entre os colaboradores.
- Estabelece canais de denúncia: Um canal de denúncia seguro e confidencial permite que os colaboradores denunciem casos de assédio moral sem medo de retaliações, garantindo que as situações sejam investigadas e resolvidas de forma adequada.
- Oferece treinamento: A realização de treinamentos regulares sobre assédio moral, ética e diversidade ajuda a conscientizar os colaboradores sobre os riscos e as consequências dessa prática, além de fornecer ferramentas para identificar e reportar casos.
O custo do assédio moral para as empresas
O assédio moral gera diversos custos para as empresas, tanto financeiros quanto reputacionais. Entre os principais impactos, podemos citar:
- Perda de talentos: Colaboradores que são vítimas de assédio moral tendem a procurar novos empregos, o que resulta em alta rotatividade e perda de talentos.
- Absenteísmo: O assédio moral pode levar ao aumento do absenteísmo, já que os colaboradores podem se afastar do trabalho por motivos de saúde física ou mental.
- Queda na produtividade: O clima de tensão e insegurança gerado pelo assédio moral afeta negativamente a produtividade, pois os colaboradores se sentem desmotivados e com medo de cometer erros.
- Processos trabalhistas: As empresas que não tomam medidas para prevenir e combater o assédio moral podem ser alvo de processos trabalhistas, o que gera custos elevados com advogados e indenizações.
- Danos à reputação: Casos de assédio moral divulgados na mídia podem causar danos à reputação da empresa, dificultando a atração e retenção de talentos e afetando a imagem da marca.
Conclusão
Com base na análise realizada do tema, fica evidente a necessidade urgente de um movimento conjunto para erradicar o assédio moral dos ambientes de trabalho.
É preciso que empresas, colaboradores e a sociedade como um todo assumam seus papéis nessa luta. As empresas devem investir em programas de compliance robustos, promover uma cultura organizacional de respeito e valorização das pessoas, e oferecer canais de denúncia seguros e eficazes.
Os colaboradores, por sua vez, devem estar atentos aos sinais de assédio, denunciar os casos e se engajar em ações de conscientização.
A construção de um ambiente de trabalho livre de assédio é fundamental para a saúde mental e o bem-estar de todos. Ao promover um ambiente seguro e acolhedor, as empresas não apenas cumprem seu papel social, mas também aumentam sua produtividade e atraem talentos.
A mudança é possível e depende de cada um de nós. Ao agirmos de forma responsável e ética, podemos construir um futuro em que o trabalho seja um espaço de crescimento e realização pessoal, livre de qualquer tipo de violência.